No <i>inferno</i> dos presos políticos
Uma delegação do PCP, composta por Manuela Bernardino, do Secretariado, Francisco Melo, do Comité Central e director das Edições Avante!, e Aníbal Pires, deputado do PCP na Assembleia Legislativa Regional dos Açores, visitou no passado dia 7 a Fortaleza de São João Baptista, em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. Esta visita, pedida pelo PCP, teve como objectivo conhecer mais de perto as instalações que serviram de prisão política do fascismo.
Cordialmente recebida pelo Coronel Nuno Rocha e pelo Tenente-coronel Silveira, a delegação do PCP foi posta ao corrente da história militar da fortaleza, cuja construção remonta à dinastia filipina. A sua utilização como prisão política é praticamente desconhecida pelos actuais responsáveis e os vestígios desta componente são raros – as casernas, onde eram concentrados os presos, por exemplo, já não existem.
Já a famigerada poterna permanece, embora muitos desconheçam que para ali foram enviados, em terríveis condições, os prisioneiros políticos alvo de castigos. No local, a delegação do Partido pôde confirmar as terríveis condições em que esses castigos eram cumpridos – a poterna era uma espécie de poço com cerca de 15 metros de profundidade e cerca de 3 metros de altura no ponto mais alto da sua cobertura em forma de abóbada. No interior quase não entra a luz, e o ar respirava-se com dificuldade. O cheiro era, na maior parte das vezes, nauseabundo, dado que os presos tinham de fazer as suas necessidades no fundo do poço. As «camas» eram os degraus da escadaria e os presos não tinham nem enxergas nem cobertores, caindo-lhes em cima, permanentemente, pingas de água.
Do ponto de vista militar, a poterna era uma espécie de túnel, que permitia sair do forte quando este se encontrava sitiado, para atacar as tropas sitiantes.
Num artigo publicado no Avante! em Março de 1997, Sérgio Vilarigues (um dos presos que conheceu, por dentro, a poterna) conta que a fortaleza de Angra era, por vezes, «um verdadeiro inferno para os presos – invasão das casernas por elementos da GNR; espancamentos à coronhada sob os pretextos mais fúteis; e presos feridos com os estilhaços das balas, atiradas contra os presos que se encontravam de “castigo” no célebre Calejão que, com as terríveis Poterna e Furnas formavam uma trilogia inesquecível». Na fortaleza, relçava Vilarigues, perderam a vida três prisioneiros, um dos quais Francisco da Cruz, operário vidreiro da Marinha Grande, participante no movimento revolucionário do 18 de Janeiro de 1934. Também Bento Gonçalves por ali passou, antes de rumar ao Tarrafal, de onde não sairia vivo.
Fazendo um balanço desta visita, Manuela Bernardino e Francisco Melo consideraram-na útil para o Partido conhecer melhor as condições prisionais do fascismo e para enriquecer a própria história daquela fortaleza. Os actuais responsáveis por aquela instalação militar também se mostraram interessados em conhecer melhor aquele negro período da história da Fortaleza de São João Baptista.